‘Efeito Levy’ começa a influenciar projeções

Além dos preços de ativos, a confiança na nova equipe econômica está começando, ainda que de maneira mais lenta, a mostrar impactos sobre as expectativas do mercado para os indicadores da economia. Antes dos anúncios de aumento de impostos feitos na semana passada, a estimativa do boletim Focus, do Banco Central, para o superávit primário em 2015 já havia subido ligeiramente, de 1% para 1,05% do Produto Interno Bruto (PIB). Depois das medidas, a previsão avançou novamente, para 1,1% do PIB.

Para 2016, a projeção para superávit primário está em 2% do PIB, assim como para 2017- em linha, portanto, com a meta a ser perseguida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nos próximos dois anos. Em meados de dezembro, a estimativa para 2016 estava em 1,8% do PIB.

Diante das ameaças de racionamento de energia e de possíveis impactos negativos dos problemas da Petrobras sobre a atividade, o cenário para o crescimento piorou para 2015 e 2016 – os analistas agora trabalham com expansão de 0,13% e 1,54% para o PIB deste e do próximo ano, respectivamente – mas a perspectiva para o longo prazo ainda é positiva. Segundo a mediana do Focus, o PIB vai crescer 2% em 2017, e 2,5% em 2018.

Já as expectativas para a inflação não contam com convergência ao centro da meta, de 4,5%, depois de 2015, mas contemplam desaceleração dos preços. Entre a semana passada e atual, o mercado elevou a 7% sua estimativa para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, mas reduziu a previsão para 2016, de 5,7% para 5,6%. Em 2017, os analistas esperam aumento de 5,5% do indicador, taxa que deve diminuir para 5% em 2018.

Segundo Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), as previsões de alta de 7% para o IPCA neste ano não contaminaram as expectativas futuras, algo que já pode ser considerado positivo. “Se a política econômica continuasse heterodoxa, as expectativas e os juros futuros já estariam disparando”, diz. Na visão de Silvia, existe a percepção de que o conjunto de medidas já tomadas não vai resolver todos os problemas, mas que, com a normalização da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e ajuda da política fiscal, a inflação vai ceder e os juros podem cair em 2016.

Em relatório, Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, aponta que, mais do que atingir a meta de 1,2% do PIB – projeção do banco para o superávit primário em 2015 – as medidas anunciadas vão na direção de um crescimento mais alinhado das despesas ao produto, e buscam o resgate da confiança na economia. “Apesar do custo sobre a atividade e a inflação que esse ajuste deverá contratar para este ano, avaliamos que os efeitos serão positivos no médio prazo”, afirma Negrão, acrescentando que o início do trabalho da nova equipe econômica superou o que era esperado pelo Bradesco e pela “grande maioria” dos analistas.

“1,1% de primário em 2015 já está ótimo, à luz do que vimos no ano passado. Tem um ‘efeito Levy’ aí porque não é um número ruim”, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. A percepção de que ainda há muitas despesas de 2014 a serem reconhecidas sugeriria uma perspectiva de superávit menor para este ano, diz Zeina, assim como o histórico recente de descumprimento de metas fiscais.

A economista pondera, no entanto, que a incoerência entre as promessas de campanha e o discurso atual da equipe econômica acaba reduzindo o impacto das medidas fiscais sobre as expectativas dos agentes econômicos. Além disso, até agora, a presidente Dilma Rousseff ainda não manifestou apoio explícito ao ajuste, o que também dificulta a retomada da confiança.

Já Fernando Rocha, sócio e economista da JGP Gestão de Recursos, avalia que uma declaração favorável da presidente não resultaria em grandes melhoras das projeções do mercado, que podem mudar à medida que resultados concretos do ajuste forem aparecendo. Por enquanto, Rocha trabalha com avanço de 1% para o PIB no próximo ano, mas afirma que o cenário para 2016 pode mudar para melhor caso o novo governo “continue fazendo as coisas certas.”

“Teremos um ano negativo e, se você vencer isso, vai passar para um período melhor um ano à frente. A questão é se o governo vai ter sangue frio para perseverar no ajuste, dado que o desemprego aumenta e a renda cai”, diz o economista, que também destaca fatores fora do alcance da nova equipe econômica que podem afetar as perspectivas. Um racionamento de energia elétrica, por exemplo, poderia fazer o PIB recuar 1,5% em 2015.

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, as previsões mais positivas para 2016 são factíveis e o crescimento a ser observado no período pode ser até maior do que 1,5%, dado a base de comparação fraca do ano anterior, mas as projeções são baseadas em expectativas. Segundo Leal, com a confiança maior no novo time econômico, os agentes podem começar a se preparar para uma retomada da economia com mais investimentos, o que reforça o cenário mais otimista para o ano que vem.

O economista do ABC também acredita que a maior austeridade fiscal e parafiscal – principalmente por meio da redução das concessões de crédito dos bancos públicos – junto à postura mais severa do Banco Central, devem levar a inflação a convergir a um nível mais próximo do centro da meta em 2016. Por ora, Leal trabalha com aumento de 5,2% para o IPCA no próximo ano.

Zeina, da XP, não espera inflação de 4,5% em 2016, mas também vê moderação dos preços. Em seus cálculos, serão necessários de dois a três trimestres para que o efeito do corte de gastos e das concessões de crédito atinja a inflação de preços livres. Com redução dos custos da mão de obra em dólar, a indústria pode iniciar uma recuperação, com melhora da confiança dos empresários e repercussões sobre os demais setores da economia, disse. “A atividade ganhando impulso torna menos desafiador o objetivo de estabilização da dívida bruta sobre o PIB”, acrescentou.

 

Fonte: Valor Econômico

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