Consumo cresce acima do PIB desde 2010 e tendência persiste

O consumo de energia será pouco afetado pela desaceleração da economia neste ano e não vai dar refresco ao sistema de geração elétrica do país. Especialistas do setor projetam que a demanda seguirá alta e descasada da atividade, ainda que ela fique um pouco menor do que os 3,7% registrados em 2014 ante o ano anterior, em função da bandeira tarifária e dos gordos reajustes esperados na conta.

Residências, comércio e o setor de serviços, “equipados” com mais produtos eletrônicos em função do crescimento da renda e da economia nos últimos anos, continuarão com demanda alta. Na divisão por setores, o último boletim da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de novembro, mostra que no acumulado em doze meses a demanda das residências cresceu 5,9% ante os doze meses anteriores, a do comércio aumentou 7,6%, e a de serviços foi de 5,2%.

O professor da UFRJ Nivalde de Castro atenta para o fato de que nos últimos anos dissipou-se no Brasil a elasticidade entre crescimento da economia e a demanda por energia. Ou seja, o consumo de energia não acompanha mais o aumento da atividade. Ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 0,4% segundo o último Boletim Focus, com a mediana das projeções do mercado, enquanto o consumo de energia aumentou 3,7%, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). “Outras variáveis ganharam importância, como o calor, por exemplo, uma vez que a renda e o consumo de eletrônicos aumentaram. A demanda por energia cresce à revelia do PIB”, afirma Nivalde de Castro.

A indústria é o único setor que conservou elasticidade entre produção e demanda ao encolher a atividade ano passado. Ainda segundo o informe da EPE, o setor demandou 2,9% menos energia em 2014. “A indústria é o único setor que tem dado uma folga ao sistema. A sobrecarga que estamos assistindo, que culminou no blecaute, foi causada basicamente por comércio e residência. Tivesse o PIB crescido 1,5% ano passado, como se achou que poderia ocorrer, o sistema não teria aguentado”, diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que projeta aumento do consumo total “ao redor de 3%” neste ano.

A caracterização da demanda puxada não pela produção do país mas por quem consome bens finais levou a um quadro díspar neste início de ano. O boletim da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) da segunda semana de janeiro mostra que o consumo total caiu 7,1% no mês até o dia 13, na comparação com o mesmo período de 2014. Mesmo assim, o ONS registrou picos de demanda recorde na semana passada. Ou seja, a desaceleração da atividade – a queda em janeiro foi mais forte em setores da indústria -, mesmo que desafogue o consumo na média, não afeta os horários nos quais o sistema elétrico sofre demanda maior por parte dos consumidores.

Também coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro afirma que esse comportamento explicita o descasamento entre nível de consumo e crescimento da atividade. “Em um sistema no limite do fornecimento, aumentos de temperatura levam a picos de demanda, pois já existe uma maior capacidade instalada de consumo potencial”, afirma.

O mercado livre, que responde a um quarto do fornecimento de energia, é mais sensível à atividade justamente pela maioria de seus clientes ser indústrias eletrointensivas, como a automobilística e a siderúrgica. Mikio Kawai Júnior, diretor executivo da comercializadora Safira Energia, prevê, em um cenário de 2015 sem racionamento, incremento de 3,2% no consumo total do mercado cativo e de 0,9% no mercado livre. O recuo em relação ao ano passado se deve à adoção da bandeira tarifária e dos reajustes programados ao longo do ano, que devem encarecer a conta em até 40%. “Mesmo assim não haverá um efeito inibidor forte”, diz ele.

 

Fonte: Valor Econômico

Post recentes