A cúpula do governo responsável por comandar o setor elétrico começou a admitir o agravamento das condições de abastecimento do país. Ontem, o indicador que retrata o risco de déficit extrapolou limite máximo de tolerância, que é de 5%, na avaliação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Sem perspectiva de melhora das condições de chuvas nos próximos meses, o governo deu o aval para o sistema liberar o “despacho pleno” de térmicas com custos mais elevados de operação para garantir a entrega de energia ao consumidor final.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o volume de água que desceu os rios e atingiu os reservatórios das hidrelétricas da região Sudeste em janeiro foi o menor em 84 anos.
Ontem, foi realizada a reunião mensal do CMSE. Em comunicado, o colegiado informou que o risco de déficit de energia em 2015, no Sistema Interligado Nacional (SIN), atingiu 7,3% na região Sudeste/CentroOeste e 1,2% no Nordeste. Nessa análise, as autoridades do setor observaram o comportamento das últimas 82 séries do histórico de chuvas.
Em janeiro, o comunicado do CMSE indicava risco de déficit de 4,9% para os subsistemas Sudeste/CentroOeste e Nordeste. Dessa vez foi usado novo critério para apurar o risco de déficit de energia. Em avaliações anteriores, a probabilidade indicada considerava o cenário de operação do sistema com o despacho de térmicas pela “ordem de mérito” menor custo.
Ontem, o comitê apresentou o percentual com base no “despacho pleno das térmicas” sem dispensar qualquer fonte de geração de energia elétrica. O despacho pleno de térmicas não era citado em comunicados anteriores. Com esse parâmetro, o risco de déficit em 2015 fica ligeiramente menor 6,1% no Sudeste/CentroOeste e zero para o Nordeste.
Com avaliação mais conservadora feita neste mês com as 2.000 “séries sintéticas” de chuvas, o risco de déficit de energia em 2015 salta para 11,1% e 3,9% no Sudeste/CentroOeste e Nordeste, respectivamente. A apuração foi feita com acionamento de térmicas pela ordem de mérito. Ao considerar o mesmo critério em janeiro, foi registrado risco de desabastecimento de 7,3% no Sudeste/CentroOeste e de 2,5% no Nordeste.
Para o governo, o risco de desabastecimento se torna preocupante quando é igual ou superior 5%. Essa margem de tolerância foi estabelecida pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Ao alcançar esse limite, o risco de desabastecimento é considerado real, com a possibilidade de ocorrências de corte de carga e até adoção de plano de racionamento.
Ao reiterar informações do comunicado anterior, o CMSE ressaltou que qualquer avaliação conjuntural neste momento “deve ser feita com cuidado”, pois o “período úmido de 2015 não se encontra consolidado”. O comitê afirmou ainda que, apesar da alta no risco de déficit, o sistema dispõe de condições estruturais de abastecimento e conta “com sobra estrutural de 7.300 MW médios para atender carga prevista” para 2015.
Ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o Ministério de Minas e Energia apresente, dentro de dez dias, um cenário realista sobre os riscos de a geração de energia do país não dar conta da demanda em 2015.
Os ministros também determinaram que, tanto o ministério quanto os demais órgãos de planejamento, regulação e gestão do setor elétrico, descrevam detalhadamente as medidas tomadas nos dois últimos anos para garantir a redução do consumo e a expansão da oferta de energia.
Também em dez dias, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve apresentar a relação das obras de geração e transmissão que, “de acordo com o estabelecido nos respectivos leilões”, deveriam ter sido concluídas até 31 de dezembro de 2014, mas que estão atrasadas. O TCU também quer saber as causas dos atrasos e os novos prazos para a entrada em operação de cada uma.
Em São Paulo, o nível do sistema Cantareira subiu terçafeira pela segunda vez, mas apenas 0,1%, para 5,2% da capacidade. Ontem, o governo estadual criou um comitê da crise para discutir com os prefeitos medidas para amenizar a falta de água na Grande São Paulo e informar sobre medidas restritivas “de modo a proporcionar tempo hábil para adoção de medidas adaptativas pertinentes”. (Com agências noticiosas)
Fonte: Valor Econômico