O trabalho formal foi regulado no Brasil a partir da Consolidação das Leis do Trabalho há quase 80 anos, contudo, ao longo desse período o mundo e o país sofreram intensas transformações sociais que influenciaram as relações de trabalho, em detrimento disso, somente em 2017 com a lei Nº 13.467, a legislação passou por uma grande reforma e o teletrabalho adquiriu destaque e ganhou regras claras de operacionalização.
Até então, este regime de trabalho trafegava tímido nas organizações, tendo uma maior adesão das grandes multinacionais que passaram a implantá-lo a partir de estudos minuciosos de impacto, produtividade, áreas compatíveis com o trabalho remoto até análise de perfis dos colaboradores, utilizando um método quase científico de experimentação e uma forte estratégia de comunicação interna, para desmitificar medos e inseguranças e abrir caminho para sua expansão.
Não poderíamos imaginar que em tão pouco tempo uma pandemia se alastraria pelo mundo e forçaria o mercado a adotar novas estratégias de comercialização e metodologia de trabalho para sobreviver ao cenário caótico estabelecido. O trabalho remoto foi então implantado, sem estudos minuciosos, sem planejamento de infraestrutura, por empresários entusiastas do regime e por aqueles que desconfiados, o mantinham longe de seus negócios. Não havia opção de escolha, era preciso preservar vidas e contribuir para a redução do contágio.
O ambiente de trabalho controlado passa a contar com variáveis intervenientes como ruídos de animais, crianças, panelas, máquinas de lavar, passa a ter cheiro e conversas cujo o tema fogem aos assuntos da empresa; o profissional que antes saia de casa com o papel principal de colaborador, deixando os outros papéis como coadjuvantes, precisou conciliar vários deles estando em home office: é o filho que requer uma explicação das atividades da escola, o marido que precisa da ajuda da esposa para tomar uma decisão e o líder cobrando resultados, tudo junto e misturado. O ideal de comodidade do lar já não era tão cômodo quanto se pensava, exigindo mais competências, inteligência emocional e jogo de cintura.
Entretanto, para outros trabalhadores, o home office supriu antigos anseios, seja pela necessidade de cuidar dos filhos, especialmente quando eles não contam com suporte de familiares ou mesmo para o desenvolvimento de projetos que exigem atenção, raciocínio lógico ou processo criativo, que surgem com mais fluidez em um ambiente sem interferências de colegas de trabalho, telefone tocando e com possibilidade de conectar-se a estímulos difíceis de serem conciliados no escritório, como ouvir a playlist do seu gosto, gerando engajamento.
Como será o trabalho no pós-pandemia? Adotaremos em definitivo o trabalho remoto? Voltaremos 100% ao trabalho presencial como se nada tivesse acontecido? São perguntas sem respostas concretas permeadas de suposições. O que podemos afirmar é que o teletrabalho ideal nem é o modelo estabelecido em tempo recorde para sanar uma necessidade de sobrevivência nem o bicho papão inacessível que se concebia antes, o trabalho remoto tem mostrado sua eficiência, trazendo resultados quando dispõe dos recursos necessários, além de contribuir para a sustentabilidade das empresas, reduzindo custos, mas precisa estar diretamente atrelado ao modelo de negócio e ao planejamento organizacional.
A força de uma empresa encontra-se nas pessoas, são elas que atingindo ou superando as expectativas levam as organizações ao patamar do sucesso, seja em casa ou no escritório, é a produtividade que gera os resultados e faz com que as empresas encontrem saídas e avancem em meio às crises.
Jacymara Coelho, psicóloga com atuação na área organizacional, Analista de RH na Faciap.