“Escrevo meu caso para despertar outras mulheres a iniciativa de fazer algo, é necessário dar o primeiro passo, ter pulso firme e ampliar o seu conhecimento. Continuo apostando e acreditando no tripé da sustentabilidade “Social, econômico e ambiental”. Jacira Reami
O relato de hoje vem da empresária que largou um emprego estável, para empreender e olha que as coisas não deram tão certo como planejado, pelo menos no início.
Comecei a trabalhar na Universidade Estadual de Maringá com 16 anos, onde conheci o meu esposo Áureo, e aos 20 anos já estávamos casados. Tivemos 4 filhas, trabalhamos 25 anos lá. Em 2004, Áureo foi convidado a administrar a fazenda do meu irmão no Piauí. Pegamos licença de 3 meses da UEM e fomos para o Piauí conhecer a fazenda e ele se encantou com o trabalho que iria fazer e financeiramente, também compensava.
Optamos por morar em Barreiras na Bahia. Eu sempre trabalhei fora, então procurei o SEBRAE, para fazer e pedi um levantamento do comércio local. Percebi que a cidade era muito suja, e conheci a ONG AJEB (Jovens empreendedores de Barreiras) que tinha um projeto “Recicla Barreiras”, e precisavam de alguém para assumir, aceitei o desafio.
Buscando identificar melhores práticas voltei a Maringá e Londrina, conversei com prefeitos para coletar dados referentes à coleta seletiva, como funcionava e elaboramos um projeto para levar para a Bahia.
Todos gostaram muito do projeto, pedimos exoneração da Universidade e mudamos para Barreiras. Meu marido para administrar a fazenda e eu o projeto de reciclagem, mesmo sem o apoio da prefeitura. Com o capital que reservamos durante nossos anos de trabalho na universidade, assumimos financeiramente o projeto. E assim surgiu, em 2005 a ‘Nova Atitude Reciclagem’.
O projeto de coleta seletiva caminhava bem, mas o cenário econômico não estava favorável aos produtores do Brasil, o que fez com que o meu irmão tivesse que vender a fazenda, fazendo com que ele ‘quebrasse’ e com isso, nós também. Respiramos, rezamos e continuamos com a empresa.
Áureo sempre tinha ideias para inovações de produtos, começou a estudar a garrafa PET e, então, conseguiu criar um equipamento destinado à corta-la em fio e utilizá-lo em um produto que imaginou ser de grande aplicabilidade: a vassoura.
Com as vassouras de PET já fabricadas, eu assumi a empreitada com ele, repassamos a unidade de coleta seletiva e fui aos mercados. Ficava próxima do setor de material de limpeza, e quando alguém passava eu chamava a atenção perguntando se já tinha visto uma vassoura feita com garrafa PET e fazia a demonstração para pessoa.
A ideia deu certo, porém eram pouco as vendas, fazendo com que retornássemos para Maringá pelo potencial existente em 2008, chamando a empresa de ‘Nova Atitude Ecológica’.
Entretanto, a vida trouxe mais uma adversidade para nós, pois logo após chegar a Maringá, Áureo se deparou com um problema de saúde muito grave, sofrendo de esclerose lateral amiotrófica, uma doença fatal. Suas complicações fizeram com que ficasse internado em UTI por 1 ano e 10 meses. Montamos uma UTI em casa com atendimento de 4 enfermeiros, ajuda das filhas e de meus pais, lutamos pela vida, mas ele veio a óbito depois de dois anos de tratamento. Foi uma grande perda. No entanto, já tínhamos perdido uma filha aos 4 anos e tínhamos 3 para eu continuar educando. Pedi força e bênçãos a Deus e continuamos com a empresa.
Optei em dar continuidade ao empreendimento, ficando responsável além da parte administrativa e vendas, também pela produção, com um sobrinho e minha filha, Áurea Reami dos Santos, tornou-se minha sócia.
A minha motivação para continuar a Nova Atitude Ecológica, se deu devido a uma somatória de fatores, além da obtenção de renda: “o fato de eu retirar a garrafa do meio ambiente, dar oportunidade para famílias desfavorecidas e ainda dar continuidade a um produto que é de grandessíssima qualidade e durabilidade, evitando jogá-las no lixo”.
O próprio produto fabricado pela Nova Atitude Ecológica já consiste em uma prática voltada para a dimensão ambiental, uma vez que garrafas PET são transformadas em fios de vassoura, reduzindo a quantidade de material que seria descartado, pois, reutilizamos para a produção cerca de 300 mil garrafas/ano.
Com a Nova Atitude Ecológica, busco não ser apenas uma empreendedora, mas ser sustentável, buscando desenvolver as dimensões sociais, ambiental e econômica do empreendimento.