PT recebeu até R$ 200 milhões em propina, diz ex-gerente da Petrobras

O ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro José Barusco Filho afirmou em depoimento no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que o Partido dos Trabalhadores (PT) recebeu entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões entre 2003 e 2013 de propina retirada dos 90 maiores contratos da estatal, como o da refinaria Abreu e Lima, em construção em Pernambuco.

O depoimento foi prestado no dia 20 de novembro do ano passado e veio à tona nesta quinta-feira (5), quando a PF deu início à 9ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Operação My Way. Barusco envolveu o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que foi conduzido na manhã desta quinta-feira para prestar depoimento na PF em São Paulo.

O ex-gerente contou à PF como funcionaria o esquema de pagamento de propina na Diretoria de Serviços. Segundo ele, 0,5% do valor ficaria com o PT, representado por Vaccari Neto, e 0,5% seria dividido entre o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, e o próprio Barusco.

Entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 2014, de acordo com Barusco, ele teria recebido US$ 5 milhões em propina. No mesmo período, Duque teria recebido US$ 6 milhões e Vaccari, US$ 4,5 milhões.

Segundo Barusco, Vaccari teria participado de um acerto entre funcionários da Petrobras e estaleiros nacionais e internacionais relativos a 21 contratos para a construção de navios com sondas, contratações que envolveram cerca de US$ 22 bilhões.

“Essa combinação envolveu o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, o declarante e os agentes de cada um dos estaleiros, que deveria ser distribuído o porcentual de 1%, posteriormente para 0,9%”, diz o documento.

Dinheiro para a campanha

Parte da propina paga à Diretoria de Serviços teria sido usada na campanha de 2010, quando Dilma Rousseff disputou a Presidência pela primeira vez. Ele afirmou que Duque solicitou ao representante da empresa SBM Júlio Faerman a quantia de US$ 300 mil “a título de reforço de campanha durante as eleições de 2010”. Segundo Barusco, o pedido teria partido de Vaccari.

A SBM também teria pago propina por uma contrato de plataforma do pré-sal. A empresa tem ligação com um caso emblemático da Petrobras, a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que gerou um rombo bilionário nas contas da estatal brasileira.

Propina na sede da Petrobras

Pedro Barusco afirmou ainda que Renato Duque recebia propina dentro da sede da Petrobras. O ex-gerente afirma que ele recebeu por Duque cerca de US$ 40 milhões entre 2003 e o fim de 2011 em contas no exterior. Barusco relata que também recebia propinas em reais, pagas mensalmente entre 2005 e 2011, em valores que somam entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões. O dinheiro em reais era entregues a Duque dentro da diretoria de Serviços, conforme o delator.

Barusco disse que guardava o dinheiro em uma caixa em sua casa, “que era usado para pagamento de despesas pessoais e para fazer repasses a Renato Duque”.

De acordo com o ex-gerente, até presidentes de empreiteiras faziam pagamento de suborno sem usar intermediários. Ele cita o presidente da Queiroz Galvão, Ildefonso Collares, como um dos “agia diretamente como operador no pagamento de propinas”. O dono da GDK, César Oliveira, também agia dessa forma, ainda de acordo com Barusco.

Braço direito do ex-diretor de Serviços, Barusco afirmou que recebeu entre 1998 e 2010 US$ 22 milhões em propina pelos contratos entre a Petrobras e a SBM. O delator detalhou as contas por onde esse dinheiro passou, sendo guardado na Suíça. Renato Duque foi indicado para o cargo pelo ex-ministro, ex-deputado federal e ex-presidente do PT José Dirceu, um dos condenados no processo do mensalão. Dirceu nega a indicação.

Depoimento

Em depoimento ontem, João Vaccari Neto negou que tenha recebido propina para o PT. Vaccari se recusou a abrir o portão de sua casa para os policiais, que tiveram de pular o muro. O depoimento durou cerca de três horas. Em seguida ele foi para Belo Horizonte, onde participa de uma reunião do diretório nacional do PT e do aniversário de 35 anos do partido.

 

Fonte: Gazeta do Povo

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